04 junho, 2017

O DIABO QUANDO NÃO VEM MANDA O SECRETÁRIO

Sim, o diabo existe e nem sempre cobra caro por favores. Neste caso, ele envia seus secretários. 

Para mim, o auxiliar do capeta apareceu por volta das 22h de uma segunda-feira, no Posto BR do bairro da Pituba, em Salvador. Terra de todos os santos e de anjos caídos do céu também.

Após algumas tentativas de ligar o meu carro, que apresentava  uma pane elétrica, recebi o auxílio da minha irmã e do meu cunhado. Ao tentar realizar a transferência de energia de uma bateria para outra, não tive sucesso. 

Eis que nesse momento surge, do nada, um homem alto, cerca de 1.90m, mulato e sujo de óleo, vestido com um guarda-pó de mecânico, o qual trazia no bolso superior esquerdo a marca de uma empresa de baterias. Nada mais oportuno, não é? Não!

O homem já chegou cheio de prestimosidade, se dispondo a ajudar. Eu logo desconfiei de tamanha bondade. Logo eu, nascido e criado na Península de Itapagipe, pra ser mais preciso, no "pacífico" bairro do Uruguai, e tendo convivido com bêbados, pequenos e médios traficantes e seus clientes: sacizeiros oportunistas, logo desconfiei. 

Mas, diante da situação resolvi deixar o homem nos ajudar, mesmo temeroso com o ônus a ser cobrado depois. 

Após realizar um procedimento que eu já conhecia, o homem conseguiu fazer o carro funcionar. 

E logo em seguida veio a conta: "costumo  cobrar R$ 80 por esse serviço, mas só te cobrarei R$ 40", disse o cheio de lodo.

Costumo ser justo com o labor alheio. Por isso, ainda que não tenhamos combinado preço pelo favor que virou serviço, achei merecido dar a ele R$ 20, pois o que ele fez não foi mais do que tirar a bateria do carro da minha irmã ainda em funcionamento e colocar no meu, uma vez que a minha não estava carregando através do meu alternador. 

Com a minha bateria funcionando no outro carro, o problema estava resolvido. Mas tudo isso não levou mais que 20 minutos. 

O pior era que, nem eu nem minha irmã e cunhado tínhamos sequer R$ 15, ainda mais R$ 40 como impôs o ajudante do capiroto.



Mesmo assim, fui até a loja de conveniência do Posto na esperança de conseguir sacar o dinheiro e nos livrarmos do cara, mas no local não havia caixa 24H.

Tentei explicar ao homem que tudo conseguimos arrecadar foram R$ 12. Mas ele estava irredutível e não queria receber o dinheiro; só repetia: "o valor é 40 reais! 

E essa cantilena já estava me deixando endiabrado. Mas ele continuava repetindo que o carro era nosso e que ele não tinha culpa de o veículo quebrar.

Apaziguador, meu cunhado saiu a caminhar em busca de um caixa 24H. Neste momento, minha irmã surta e pede pra ele voltar, sem sucesso. Iniciava ali a nossa baixaria em plena Avenida Manoel Dias da Silva.  

Eu já não sabia o que fazer. Foi quando minha irmã colocou os R$ 12 no chão, sob uma pedra, avisando ao filhote de cruz credo, que ainda resmungava e relutava em receber o seu pagamento.

Foi aí que entramos no carro e saímos. Ao olharmos pelo retrovisor vimos que logo após a nossa partida o cracudo correu em direção ao dinheiro.

Nesse dia, me lembrei do que disse o mestre Jackson do Pandeiro em uma das suas músicas: "eu não vou na onda nem no conto do vigário, pois o diabo quando não vem manda o secretário".
















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